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CAMINHO das PEDRAS ...

DA MINHA LÍNGUA VÊ-SE O MAR. DA MINHA LÍNGUA OUVE-SE O SEU RUMOR, COMO DA DE OUTROS SE OUVIRÁ A FLORESTA OU O SILÊNCIO DO DESERTO. POR ISSO A VOZ DO MAR FOI A NOSSA INQUIETAÇÃO. Vergílio Ferreira

CAMINHO das PEDRAS ...

DA MINHA LÍNGUA VÊ-SE O MAR. DA MINHA LÍNGUA OUVE-SE O SEU RUMOR, COMO DA DE OUTROS SE OUVIRÁ A FLORESTA OU O SILÊNCIO DO DESERTO. POR ISSO A VOZ DO MAR FOI A NOSSA INQUIETAÇÃO. Vergílio Ferreira

15
Jan09

São Jorge Antigo IX - A Luz Eléctrica!


CorteVale

 

A inauguração da Luz Eléctrica em São Jorge, ou melhor… em Cebola!
 
 
 Fecho os olhos e ainda hoje revejo o clarão de luz branca que momentaneamente me cegou…
 
Quase toco a nitidez e a luminosidade que invadiu o guarda-loiça, a mesa e as cadeiras que habitavam a nossa sala da casa-de-cima, à Capelinha, quando, à noitinha, o meu pai ascendeu, pela 1ª vez, a mágica LUZ ELÉCTRICA que, ainda por cima, começou a morar num globo branco, que aumentou "milhões de vezes" as respectivas velas... empalidecendo mortalmente o pavio que até aí brilhara na chaminé de vidro do candeeiro de petróleo, que não teve outro remédio senão envergonhar-se e recolher-se num canto escondido da cantareira, donde saía magestoso quando a luz eléctrica se ia abaixo, o que, infelizmente, acontecia com regularidade nos idos anos de 60!...
 
Relembro o "milho zaburro", semeado em caixas da pólvora e deixado a crescer na escuridão das lojas, ao lado das arcas de milho e de mantas e da salgadeira e que, no dia da inauguração da luz em São Jorge, decorou portas e janelas e, quando tocado pelo sol, parecia uma verdadeira seara de oiro ondulante!
 
Só muito mais tarde percebi este efeito tão especial... qualquer planta que seja forçada a crescer privada da luz solar veste-se de um amarelo-dourado, devido à sua falta, tão necessária à clorofila, a roupagem verde das plantas...
 
Aquela torrente de luz funcionou como um murro de estrelas no meu cérebro (teria eu 6 ou 7 anos)  e, provocou, de facto, uma grande transformação em mim... teve um enorme impacto… Aí nasceu a minha primeira vocação… ser electricista e aprender a manusear essa magia escondida nos fios, cujo esplendor tocava tudo o que me rodeava e que aprendi a respeitar depois de uns valentes choques eléctricos!
 
Depois de ter conseguir puxar uma baixada de luz para a ameixoeira que se espreguiçava para cima do telhado da cozinha (nessa altura vivíamos à Capelinha) e experimentados uns valentes choques, especializei-me em voltagens mais reduzidas… Consegui colocar uma pilha de 9 volts e um bico de luz no anexo de madeira - a retrete exterior da nossa casa – que era iluminada sempre que a porta do dito anexo era fechada…
 
Devido a tal feito, considerei-me diplomado e pronto a fazer as minhas próprias instalações eléctricas com voltagens mais sérias... Habitualmente a casa era sacudida por enormes estrondos no quadro-da-luz, demonstrando-me que estava a ser perito em provocar... curto-circuitos!
 
Acredito que a inauguração da luz na nossa terra contribuiu para um aumento significativo do rendimento escolar, pois ainda me lembro do deleite que sentíamos nos serões em que fazíamos os trabalhos escolares e líamos à luz... eléctrica!
 
Lá em casa e nas casas vizinhas, toda a gente em idade escolar queria fazer serão todos os dias... para estudar... parecia tudo muito mais fácil, pois tudo brilhava de forma assombrosa e víamos com nitidez não só os cadernos e livros religiosamente encapados como também toda a sala era um palco de luz, enquanto  que antes - à luz do candeeiro a petróleo -  nos esforçávamos imenso para ler a 20 cm de distância e tudo o resto era escuridão... facilmente os olhos começavam a lacrimejar, o sono invadia-nos e... claro... os trabalhos escolares ficavam a meio!
 
Não me lembro com muita nitidez, mas também o medo do escuro quase desapareceu por completo ou se reduziu imenso... pois a luz eléctrica espantou, de uma acentada, quer as almas do outro mundo, quer a morte vestida de negro e que empunhava aquela brutal foice de lâmina brilhante, quer o homem da saca, quer mesmo os lobisomens que habitualmente viviam nas zonas de penumbra das nossas casas e se projectavam nas paredes sob os efeitos das chamas ondulantes e ténues do lume da chapa, das lamparinas, velas, candeeiros... e outros artefactos equivalentes!
  
De facto, a partir dessa altura estudar era uma brincadeira de crianças...
 
A coragem também aumentou... pois conseguíamos gerar escuridão ou espalhar torrentes de luz de acordo com as nossas conveniências....
 
Dava comigo a fechar a maioria das luzes e a impressionar os meus irmãos e vizinhos mais pequenos, contando-lhes histórias de lobisomens com 3 metros de altura, no mínimo, que ora vinham sozinhos pela penumbra da noite espreitar às vidraças embaciadas da cozinha, ora se faziam acompanhar de algumas almas penadas que gemiam no escuro do corredor e produziam um bafo quente (bafo gélico eu não conseguia produzir...) nos pescoços dos meus aterrados companheiros de fantásticos e fantasmagóricos serões!... O realismo que emprestava à minha simulação era tal que, por vezes, eu próprio me aterrava e sentia um frio na espinha com o realismo que emprestava àquelas teatralidades... e acendia imediatamente as luzes... pudera!
 
Com o tempo e a rotina, a magia da luz eléctrica foi-se perdendo, assim como desapareceram as noites de breu e as escuridões que geravam em nós o pavor e nos levavam a gritar... "fujam que vem lá o medo!"
 
Com a banalização da luz eléctrica o respeito pelo escuro apenas se pressentia nas visitas fugazes ao forro mal iluminado e habitado por ratos que andavam de motoreta ou à enorme loja, onde a miserável luz de vinte velas era esmagada pelas sombras das dornas, das pipas de vinho e das enormes arcas... que encerravam, para além das mantas e do milho, coisas misteriosas e... talvez os lobisomens e as almas penadas e... claro o senhor medo!!!  
 
Os fantasmas que a luz eléctrica matou e os medos que fechou a sete chaves!!!
 
Alguém sabe qual a data exacta em que foi inaugurada a luz eléctrica em São Jorge? Ou melhor, a data em que, na nossa infância, aprendemos a lidar com os medos e em que estudar e fazer os trabalhos da escola era um prazer?!
 
04
Jan09

Quem acode a São Jorge?


CorteVale

 

 

São Jorge está a morrer! Quem lhe acode?

 

Não é de agora. Há muitos anos que vemos São Jorge a definhar, a perder o seu fulgor, dinamismo, iniciativas… as gentes são cada vez menos, os idosos predominam e, o mais preocupante, começa a instalar-se uma crença pessimista de que não há nada a fazer, isto é mesmo assim…
Já teve grupos de teatro, uma equipa de futebol prestigiada, um rancho infantil, um club cross, entre outras manifestações culturais de uma comunidade viva…
Os escuteiros parece que estão por um fio… se é que não acabaram já, o Estrela da Serra parece que está em “coma profundo” há bastante tempo…
O espaço museológico não mostra sinais de vida…
Entretanto os monumentos vivos da cultura são-jorgense – as pessoas mais idosas - vão-nos deixando e vai-se apagando e perdendo a essência de São Jorge: a sua CULTURA, os seus hábitos e modos de vida, os seus valores e toda a história que dá sentido e explica porque existe uma Comunidade neste lugar…
Alguém registou a imensa sabedoria sobre chás e mezinhas que a Ti Barata divulgava a todos os que se queixassem de alguma maleita?
As inúmeras histórias e incidentes do salta-e-pilha onde estão narradas?
Alguém deu continuidade ao excelente levantamento e tentativa de interpretação do Códice de São Jorge, realizado há uns bons anos pelo Dr. Júlio César Baptista? (conto voltar a este tema brevemente!).
Muitos dos marcos históricos da vida das Minas foram protagonizados por são-jorgenses… Onde estarão estes factos documentados?
Os saberes sobre as Regadias, a construção comunitária das presas, a partilha de horas de água estarão narrados? Onde?
O quotidiano dos inúmeros moinhos de água estará documentado?
O forno comunitário, as responsabilidades das forneiras, as regras da sua utilização conhecem-se? Quem as descreve?
Os lagares que existiram, o fabrico artesanal do azeite e as famosas couvadas aí confeccionadas farão parte das memórias de quem? Ainda se poderão localizar esses engenhos humanos?
Os pastores, que tão bem tocavam realejo e as suas histórias sobre lobos, animais mágicos, cobrões, sobre as aves de rapina que roubavam cabritos… os lobisomens que apareciam do meio do sapouch!
O ritual da matança do porco que era aliciado para fora do curral com uma cesta a chocalhar milho, acompanhada de expressões carinhosas: “fcá, fcá, fcá ... croch, croch, croch…!
As courelas escombaradas e cavadas  por ranchos de homens e mulheres… as debulhas do milho… os ganhões e os carros de bois a chiarem dos Cabecinhos aos Lameiros!...
Bom, nem tudo estará esquecido ou mesmo perdido e muito poderá ser registado e narrado… depende apenas de nós!
 Registe-se o dinamismo da banda filarmónica e o fulgor das iniciativas da comunidade são-jorgense em Dusseldorf, Alemanha…
Existem ainda actividades e manifestações de cariz religioso em torno da Igreja que ainda vão mostrando algum dinamismo e dedicação, embora a idade média da maioria dos devotos e praticantes deixe adivinhar que, se nada for feito, em breve poderão acontecer rupturas e paragens nestas actividades…
A Sagrada Família ainda é visita regular das nossas casas, os altifalantes da Igreja ainda ecoam as liturgias, o sino da igreja ainda vai dando horas mais ou menos certas, o que revela vida e crença!
A fogueira do Natal esteve à Eira e terá sobrevivido alguns dias, embora tenha perdido o fulgor de antanho em que – contam os mais velhos – durava até aos Reis??!!!
O ligeiro nevão que nos visitou deixou-a (à fogueira de Natal) neste mísero estado… embora já tivesse perdido as brasas há algum tempo e as chamas terão sido mesmo breves…
Felizmente que a Banda Filarmónica continua a pulsar… apesar das dificuldades!
Entre o Natal e o Ano Novo – pelos dias do nevão em São Jorge – tive oportunidade de ouvi-la em tarde carregada pelo “sapouch” que cobria boa parte de São Jorge e, presumo que em ensaio, até o “parabéns a você” saiu bem afinado e em aceleração final, como é usual fazer-se nas ditas comemorações.
À(o) aniversariante os meus votos para que continue a demonstrar ao vivo a sua cultura musical. São Jorge bem precisado está!
Também o Clube lá vai funcionando como um espaço de convívio e, de facto, as tardes de sábado e domingo ainda se apresentam com algum calor humano, visível nas cavaqueiras à entrada do Clube e nas partidas de sueca, no seu interior, habitualmente inspiradas em rodadas que devem ser pagas pelos menos dotados nas cartas… ficando habitualmente a consolação: “azar às cartas… sorte no amor!”
E, claro, o Centro de Solidariedade Social que, enquanto principal empregador (?) de São Jorge e prestador de cuidados sociais e de proximidade, assegura qualidade de vida e bem-estar a um número cada vez maior de são-jorgenses!
 
Mas, sente-se que São Jorge está a morrer…
 
Nesta quadra natalícia e por duas noites consecutivas, entre as 21h e as 24h estuguei o passo, pisei a neve, respirei de modo ofegante, aqueci os pés e apreciei luzes e sombras da grande maioria das ruas, quelhas e escadarias de São Jorge…
Confesso que, salvo à porta do Clube, à Cruz-da-Rua (junto ao café do Peixoto) e à Ponte, não tive o privilégio de sentir o calor de vozes são-jorgenses…
De facto, em todas as restantes ruas, quelhas e escadarias, fosse ao Quintal, no Adro da Igreja, ao Passadiço, à Eira, ao Rodeio, ao Pombal, aos Torgais, à Costa, aos Cabecinhos, à Amoreira, ao Terreiro, nada se ouvia a não ser a chuva e o ranger dos meus sapatos, ora na neve, ora na calçada… acho que só me cruzei com uma pessoa, quando descansava por momentos nas alminhas da Capelinha, local onde relembrei emoções e imagens de quando teria 2 a 3 anos e ouvia histórias ao colo do meu bisavô!
Várias vezes passei junto da casa de pedra onde está instalada a  “Associação da Juventude Sãojorgense”, em frente da loja da Ti Silvina, e aí abrandava o passo, punha o ouvido à escuta e tentava ver algum sinal para lá da janela, onde umas luzinhas de Natal piscavam uma pálida luz, quase envergonhada, tentando dizer-me…  “olha que aqui não há ninguém…”
 
Mas da última vez que por lá passei, já tinham batido as onze da noite no sino da Igreja, e depois de não sentir vivalma e estando quase a dobrar a esquina , em frente à casa da família dos Coelho, ouvi uma voz jovem e acolhedora que, vinda da Associação da Juventude Sãojorgense me chamou…
- Olá, boa noite. Não quer entrar? Venha aquecer-se ao pé de nós e falar um pouco da nossa Aldeia!...
Admirado, pois ao passar não tinha pressentido vivalma, virei-me e vi um jovem são-jorgense que respirava alegria e de mãos abertas me convidava a entrar…
- Obrigado. Aceito. Quase a correr voltei atrás e subi as escadas que antecedem a porta de carvalho antigo (?) que guarda a AJS!
Cumprimentei o jovem simpático que me acolheu para o interior da casa e reconheci nele traços de um amigo de infância que partilhou comigo a carteira da escola da Ponte!
A sala, embora modesta e pequena, acolhia mais de uma dezena de jovens; uns consultavam a Net, em 2 PC, enquanto os restantes se distribuíam por 2 pequenas mesas redondas, onde 4 jogavam às cartas e outros consultavam revistas e desdobráveis, parecendo estarem a programar actividades culturais…
Exactamente no meio da sala uma salamandra redonda irradiava um calor acolhedor.
O meu jovem cicerone passou a apresentar-me aos presentes e a explicar-me as actividades da AJS…
- Aqui funciona o “Canto dos Roteiros”, isto é, agendamos e realizamos visitas guiadas às memórias da nossa Aldeia; temos em programação cerca de 20 passeios por São Jorge, uns curtos, dentro da própria aldeia… Tá a ver os prospectos? …  E visitamos vários locais com significado, onde descrevemos o que já lá funcionou, as pessoas que lá habitaram, as actividades que se realizaram lá… Em todos os passeios procuramos que as pessoas mais antigas e mais conhecedoras possam testemunhar as suas vivências.
- Por exemplo, temos o passeio aos largos (Eira, Adro, Cruz-da-Rua, Amoreira, Passadiço, Terreiro, Quintal e Rodeio); é um passeio de 2h e destina-se especialmente aos filhos dos nossos emigrantes.
- Temos outros passeios temáticos; por exemplo, o passeio às regadias, minas e presas, dura 5h e é de dificuldade média; temos o passeio aos moinhos de água e lagares, dura 6h e é mais duro, pois começamos nos Cambões.
- Temos o roteiro dos mineiros, que são 2 passeios de dificuldade elevada, durando um 6 horas e o outro 10h, pois um começa nas Meãs e o outro termina na Covanca e que ilustram o quotidiano dos nossos mineiros a irem para o Vale de Ermida, para a Panasqueira e para a Barroca Grande.
- Temos o roteiro dos cereais, também de elevada dificuldade, pois visitamos todos os locais agrícolas onde se semeava milho e centeio.
- Temos alguns passeios mistos, por exemplo este desdobrável explica 2 roteiros do observador de aves e animais selvagens: um começa na Eira, Cortevale, Barreira Branca, Vale dos Coelhos e Betouril, Aradas, Aldeia das Aradas, Meães, Coimbrão, Portela, Quebrada, Seixo, Mina da Selada, Fraga do Penico, Fontanheira e termina no Pombal; o outro ainda é mais longo e duro pois é a clássica ida ao Picoto, pela Portela e regresso pela Fonte Fria e capela de Santa Bárbara.
- Temos ainda passeios às Minas, organizadas com a máxima segurança; estamos a planear o roteiro das Torvas, com a presença de um espeleologista e de um técnico de segurança e este passeio não pode ter mais de 6 participantes…
- Aqui funciona o “Canto do Teatro & Espectáculos” e temos programado vários teatros de rua, com a participação de associações teatrais do nosso concelho. Estamos a reactivar o rancho folclórico, num misto de grupo de cantares e de instrumentos de corda… Vamos amanhã cantar as janeiras!
- Deste lado temos um misto de pequena biblioteca & São Jorge em Imagens com muitas publicações que nos interessam e também um conjunto de escritos, imagens e publicações sobre São Jorge. Pensamos realizar uma exposição fotográfica e de objectos tradicionais, apoiados em colóquios e debates no próximo verão, aproveitando a presença dos nossos emigrantes. Vamos depois publicar no nosso site e em papel uma obra sobre a história e a cultura de São Jorge.
- Temos ainda aqui o “Canto do futuro” onde imaginamos coisas boas que podem acontecer em São Jorge, para além de ideias e projectos que podem ser de turismo ambiental, estamos a programar actividades para as escolas do nosso concelho e estamos a trabalhar com várias entidades, incluindo uma universidade, etc. Ainda são segredo, por isso não lhe posso dar mais detalhes!...
 
- Fico surpreendido com tantas ideias e iniciativas, retorqui-lhe, não escondendo algum embargo na voz… Embora esteja fora, também me disponibilizo para apoiar e participar, caso…
- Precisamos mesmo do apoio de todos os são-jorgenses, atalhou o jovem dinamizador de alguns projectos da AJS… Ao convidá-lo a visitar-nos, não escondo, foi também essa a nossa motivação…  Queremos contar consigo!
Deixados os meus contactos e identificadas algumas necessidades onde eu poderei ajudar, despedi-me… Antes de abrir a porta, olhei para trás e senti uma enorme alegria por ver todo aquele dinamismo… Numa noite de inverno 12 jovens estavam a assegurar o futuro de São Jorge…
De facto, o título desta crónica deveria ser “ São Jorge está a construir o seu futuro…”
 A realidade crua e dura…
No meio da rua, ouvindo bater a meia-noite, com farrapos de neve a pesarem-me no guarda-chuva e olhando para a loja que foi da Ti Silvina, senti o frio da noite e… repentinamente… virei-me e vi as escadas que dão acesso à AJS cheias de neve imaculada, sem qualquer rasto… Levantei os olhos e o silêncio era total… a AJS estava fria, fechada e lá dentro não se sentia o pulsar de ninguém… nem mesmo as pálidas luzinhas de Natal da véspera espreitaram à janela!
Que pena… Esta visita à AJS não passou de um sonho!!!

 

21
Dez08

São Jorge Antigo VIII


CorteVale

 

MEMÓRIAS DE ONTEM
VIVÊNCIAS DE HOJE
 
 
ONTEM – O PASSADIÇO
 
Este é o Passadiço na sua humildade e na sua pobreza, tendo-se notado sempre um certo desleixo. Muitos ainda se lembram dele.
 
No rés-do-chão havia lojas que serviam de arrecadação e estábulo para animais.
Não era local limpo e, por vezes, muito mal cheiroso. Do tecto pendiam restos de palha que, misturados com teias de aranha, completavam o ambiente.
 
Era formado por duas casas unidas à altura do terceiro piso e por uma cobertura, construída em madeira tosca (falheiros) e que serviu sempre de palheiro. A casa da esquerda pertenceu a António Matias e foi sempre casa de habitação. A casa da direita pertenceu a meu tio, Moisés Pereira, que foi,  em tempos idos, casa de habitação e posteriormente serviu de arrecadação para pasto de animais.
As lojas do lado esquerdo serviram de arrecadação e as do lado direito foram utilizadas para estábulo de animais.
 
 
 
 
Reparemos que as três casas que se vêem na foto foram construídas de xisto e barro, materiais usados em todas as habitações da nossa aldeia e existentes em abundância na nossa região. (A nossa terra era digna de pertencer às aldeias do xisto, pois a maioria das casas foram construídas com este material. Com o andar dos tempos, começaram a rebocá-las e a pintar de branco pois houve a ideia de que as casas por caiar era sinal de pobreza).
 
Do lado esquerdo e mais próximo do fotógrafo, em finais dos anos 40, houve um barracão, pertencente a José Francisco Baptista, que servia de armazém a materiais de construção e outros. Entre este barracão e a casa de António Matias, havia uma serventia particular para os quintais de Joaquim Duarte Baptista e traseiras da sua residência.
Daqui nasceu em finais da década de 50 a Rua Nova da Igreja para dar acesso àquele templo religioso.
 
À entrada do Passadiço, vemos, em pose, duas meninas da Panasqueira que, em tempo de férias, vinham até Cebola dar o seu passeio, tendo uma delas namoriscado um dos muitos estudantes que então aqui havia.
 
Em primeiro plano, vemos uma filha de José Augusto Alves que vinha das hortas, de cesta na mão, e que não quis importunar o afortunado fotógrafo, que creio ter sido Jorge de Almeida Baptista ou António Mendes Bento, jovens estudantes na altura.
 
Em segundo plano, vemos uma criança do sexo feminino, na levada da água, bem encostada ao muro e que assistia, talvez pela primeira vez, àquele trabalho.
 
Lá ao cimo, à entrada da Travessa da Rua Direita, uma mulher, vestida de negro, que presumo ser minha mãe, Ti Piedade “do Fundo”, que dava conta da ocorrência.
 
No cantinho da minha memória recordo que, depois do alargamento do Corredouro, passaram por aqui os primeiros automóveis, (3 ou 4) com toda a garotada da aldeia correndo atrás e em grande algazarra, fazendo os condutores milagres de condução, pois a rua era à medida da canga  dos bois. Chegaram à Eira, porém, sem conseguirem evitar alguns riscos.
 
A povoação acabava aqui. Era o fundo do povo. Para nascente, não havia casas de habitação.
É de notar que algumas pessoas que aqui viviam aumentavam ao seu apelido o termo “do Fundo”, aparecendo mesmo em documentos oficiais, para assim se diferençarem de outras pessoas que tinham o mesmo nome.
 
Todos os nossos antepassados passavam por aqui:
 
Passavam por aqui os ganhões que, com a sua junta de bois, saíam ainda “d’alpardo”,
regressando alta noite, em passo lento, calçada acima, animados apenas com o chiar dos carros, carregados dos mais diversos produtos;
 
Passavam ainda por aqui os nossos familiares, jovens, crianças e mulheres, muitas delas com o “rulo” à cabeça com o último “rebento” nascido há pouco que, de sol a sol, cultivavam as magras leiras de onde, a poder de muito trabalho, angariavam algum sustento para si e para os seus.
 
Passavam sempre por aqui os mineiros, mais apressados na descida e mais lentos na subida, fazendo-se ouvir o barulho das suas botas brochadas por toda a aldeia;
 
O Passadiço era passagem obrigatória para os mineiros de Cebola, excepto os mineiros da Avesseira e alguns do Ribeiro do Souto que, para encurtar caminho, passavam pela levada do Fundo do Vale.
 
Estes “heróis do trabalho” nunca receberam as honras nem as distinções dos heróis nacionais, a não ser o magro salário que no fim de cada mês, em envelope fechado, depositavam no colo da esposa, para que ela governasse o seu agregado familiar.   
 
Estes homens, heróis mineiros que, morrendo na flor da vida, deixando mulher e a sua prole, geralmente bastante numerosa e que enriqueceram o país com o seu trabalho árduo e infra-humano e ”enterrados vivos”, bem merecem ser lembrados, em monumento simples.
Era um sinal a perpetuar a memória daqueles mártires do trabalho que partiram, levando a imensa mágoa de deixarem esposa e filhos, muitos ainda por acabar de criar.  
 
 
HOJE – O LARGO DE SÃO JORGE
 
Aqui, no Largo de São Jorge, por onde todos os mineiros passavam e que, como “toupeiras humanas”, tiravam do interior da terra o “ouro negro” que a todos enriquecia, excepto o trabalhador que empobrecia e precocemente morria, minado pelo mal de mina, a “Silicose”, ficava a lembrança, para os vindouros recordarem aqueles que partiram.
 
Todos nós teríamos alguém para recordar e uma prece se elevaria aos Céus por todos os nossos mártires mineiros.
 
Em1954 o Passadiço foi adquirido pela Junta de Freguesia, presidida por Augusto de Almeida, assim como as casas envolventes: a de Moisés Pereira, a de António Matias, a de Joaquim Bernardino e a de José Gonçalves. De todas elas apenas a de José Gonçalves foi reconstruída, tendo sido alinhada pela casa de Pedro Alves, que actualmente serve de sede à Junta de Freguesia e pela casa que foi de Joaquim Duarte Baptista.  
 
Assim nasceu este lindo Largo de São Jorge, que muitos chamaram Largo dos Paralelos e Largo do Passadiço e, até, por ironia, Arco do Triunfo.
 
 
Agora mais encantador ficou com nova iluminação e novo calcetamento. 
 
Ao centro, no chão, vemos uma representação heráldica: o brasão de São Jorge da Beira, tendo ao centro, como não podia deixar de ser, o gasómetro, sempre necessário ao mineiro; o lobo, animal abundante na nossa região e temido por todos; o cristal, sinal de riqueza, saído das nossas minas; e a castanha que era um dos principais alimentos dos nossos antepassados.
 
É de lembrar que os primeiros mineiros a trabalhar nas minas eram homens de Cebola e que em 1898 já havia exploração de volfrâmio em filões mais superficiais, havendo também já nesta mesma data uma lavaria manual muito rudimentar.
Nesta data já lá trabalhavam cerca de cem pessoas, sendo a grande maioria, homens de Cebola. 
 
Carlos Baptista Pereira

 

 

P.S. Obrigado Prof. Carlos pelo excelente esclarecimento e resposta às questões que coloquei no post "São Jorge Antigo I" - http://covita.blogs.sapo.pt/6917.html .

 

 

14
Jun08

"O Fantasma de José Júnior"


CorteVale

 Hesitei durante muitos dias se deveria partilhar aqui – neste blog pessoal, mas pouco intimista - o meu olhar sobre esta  tragédia que aconteceu em São Jorge há uns bons 35 anos!...

 

Decidi-me! Os meus leitores merecem-me esta confiança!

 

Mexer nas nossas memórias sensíveis e mal resolvidas é, no mínimo, incómodo...

 

Todos temos telhados de vidro e todas as comunidades e povos têm “sótãos” onde se guardam e se esquecem (ou se reprimem) factos, acontecimentos, emoções e experiências, cuja revelação nunca é fácil e, a maioria das vezes, é dolorosa!...

 

Saúdo a lucidez e a coragem do Vitor e dos nossos conterrâneos que o têm acompanhado nesta reflexão e agitação das mentalidades e faço votos para que não se transforme numa catarse recriminatória, mas antes numa oportunidade para que na nossa terra não se repitam práticas de abandono, de exclusão e de violência como as que vitimaram o José Júnior!

 

Sejamos  honestos. Estas tragédias não se abateram só sobre o José... quem não se lembra de outros nossos concidadãos, mesmo crianças, que, votados ao abandono e escorraçados pela nossa comunidade, se afundaram em tragédias pessoais de desfecho igualmente chocante e que terão deixado alguns Sãojorgenses mais atentos e sensíveis completamente chocados ou mesmo destroçados?

 

Que o “fantasma do José Júnior”, título da crónica de Saramago, seja um bom fantasma para todos os Sãojorgenses e nos mantenha de espírito alerta e permanentemente lúcidos para sermos capazes de apoiar e socorrer aqueles que, ao menor sinal de alarme, se queiram despedir precocemente da vida ou desistir de serem felizes, mergulhando na valeta para onde a nossa indiferença e desdém os tem empurrado...

 

Não será que esta obsessão permanente de competição uns com o outros, em que a ética e a moral não abundam, não nos consome e aliena e não vitima aqueles que, por maior sensibilidade ou fragilidade emocional, não querem participar neste “jogo”?

 

                   

 

Há mais de 10 anos, inquietado por esta tragédia do José Júnior, desatei a oferecer em dias de aniversário de familiares esta “Viagem a Portugal”, de José Saramago, trata-se de uma viagem aos afectos, à cultura e também às angústias e fantasmas das comunidades e populações... recomendava, na altura, a leitura das páginas 141 a 143...

 

 

 

Ironicamente nunca nenhum dos meus, a quem ofereci o livro, tomou a iniciativa de discutir abertamente esta crónica – “o fantasma de José Júnior”... trata-se, de facto de 3 páginas que são um verdadeiro espelho, onde podemos espreitar o nosso rosto de SãoJorgenses e... não gostamos, de facto, do que vemos reflectido nesse espelho mágico!...

 

     

 

Não somos obrigados a gostar do que lá está escrito, mas temos a responsabilidade de aprender a evitar que algo semelhante aconteça ao nosso vizinho, ao nosso conterrâneo emigrado, ao nosso familiar, ao nosso colega dos bancos da escola!... seja ele do Pombal, da Cruz-da-Rua, da Capelinha, da Costa, do Rodeio, dos Torgais, da Ponte, do Porto, do Quintal...dos Cambões, do Vale, da Panasqueira, esteja ele no Canadá, na Alemanha, na Suíça, ou seja ele um ser humano desconhecido que esteja perto de nós!

 

 

 

Também a tragédia de José Júnior se cruzou comigo!

 

No ano lectivo de 72/73 dava aulas de educação física na Escola (na altura Comercial e Industrial) Campos Melo da Covilhã... foi a minha primeira experiência profissional a sério! Na altura hesitava entre estudar para professor de educação física, vir a ser psicólogo (o que acabou por acontecer) ou estudar advocacia. Como o ginásio da escola, onde eu dava aulas, ficava praticamente ao lado do tribunal da Covilhã aproveitava o fim das aulas para assistir discretamente a julgamentos e apreciar o funcionamento da justiça e (o que mais me interessava na altura) observar o desempenho, ora dos juízes, ora dos delegados do ministério público e... claro, as prestações dos advogados na barra de tribunal...

 

Numa tarde de um dia soalheiro, eram réus alguns jovens Sãojorgenses que tinham expressões de incrédulos... parecia que o céu lhes tinha caído em cima... estavam esmagados pela realidade que até aí lhes fora inconsciente?...Como terá sido possível que “brincadeiras estúpidas” e comportamentos inconscientes e desculpabilizados pelo efeito do álcool tivessem desencadeado aquela tragédia?!!! Pensariam eles e as não mais de uma dúzia de pessoas que comporiam a sala de audiências... 

 

Já não me lembro exactamente de qual foi o veredicto, nem isso importará, mas lembro-me de que passaria pela cabeça de alguns dos presentes que o José Júnior é que teria estado no sítio errado e tombado de forma errada no meio de uma "brincadeira inocente"!.. Muitas consciências terão ficado aliviadas quando o juiz perguntou (a um familiar?) que pena ou reparo pedia a família ao tribunal e... numa voz humilde, tímida e fortemente constrangida terá balbuciado que eram bons rapazes, filhos de famílias humildes e trabalhadoras, coitados fizeram aquilo sem querer e toldados pelo vinho... que os mandasse em paz!

 

 Na altura pensei que talvez fosse mais útil uma pena do género: "sois condenados a correr mundo durante 10 anos e ajudarem a levantar da lama todos os seres humanos que encontrardes despojados e que tenham desistido de viver..."

 

 

Provavelmente ficaremos mais em paz com o José Júnior e com nós próprios sempre que conseguirmos evitar, nem que seja por um só dia, que alguém viva os momentos trágicos que ele viveu... estas atitudes para com os nossos semelhantes serão bem mais úteis que uma qualquer tabuleta numa qualquer esquina de São Jorge!  

 

Cortevale

 

 

11
Mar08

Porque a assinatura "CorteVale"?


CorteVale

Por tantas razões… enumerá-las seria quase impossível.

CorteVale é um vulcão de imagens, de emoções, mas também a quietude de um lugar com sentido…

CorteVale!


Lembra-me o Fiel, cão majestoso e seguro, que me deixou montá-lo quando tinha 4 anos.

Conduz-me à presa da Buraca, onde tantas vezes me refresquei, depois de longas horas de futebol na Portela,


Recorda-me o barro azul que apanhei na barreira junto ao ribeiro, com que moldava bonecos e figuras que levava para a escola da Ponte…

Ainda hoje saboreio diospiros que me lembram a frescura e a doçura da CorteVale.

Foi à Cortevale que o meu avô me mostrou uma camisa de cobra, que pus à volta do pescoço, julgando ser um cachecol largado por um avião que passava lá no alto!


Á CorteVale aprendi a raspar, a “escombarar”, a cavar… a dosear o esforço e a rilhar os dentes para aguentar as borregas nas mãos.

À Cortevale aprendi a guardar cabras, a sentir a sua afeição e a alegria das marradas dos cabritos,

Também à CorteVale aperfeiçoei a arte de fazer cola a partir dos botões de seiva das macieiras e das pereiras,

Fiz caravelas com conocos e camisas de maçarocas de milho… experimentei fumar barbas de milho… brinquei às carduçadas com os amigos da Costa… 

 

Assombrava-me quando tinha que ir à mina, assustava-me o esvoaçar do pássaro que fugia do fresco da penumbra da mina…


A porta do curral era um hino à reutilização dos materiais… uma palmilha de um sapato de borracha virou a dobradiça da porta!

E o Fiel conduzia as cabras para o curral e sentava-se à porta, barrando-lhes a saída!

 

À CorteVale saboreei couves e feijões comidos com um garfo de azinheira, feito pela minha avó!


À CorteVale poisava, estafado, os molhos de mato e de lenha que trazia do Vale dos Coelhos…

 

Hoje é um espaço aparentemente abandonado… A CorteVale… sempre que estou em São Jorge tento ir até lá… pela paz e serenidade interior que experimento, mas também pela energia que é libertada por tantos braços que trabalharam nesta breve planura…

 

A CorteVale faz-me evocar ainda milhares de outras imagens e emoções… pessoas, vozes, olhares, entreajuda… sensações de confiança, também de angústia, de medo…e de esperança…

 

A CorteVale é um lugar sagrado para mim… dá sentido a todo o meu ser!

 

cortevale@sapo.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

25
Jul07

São Jorge Antigo VII


CorteVale

Vasculhando pastas antigas e apontamentos sobre São Jorge... eis que encontro mais "postais" que registam os cortejos de oferendas, tudo em prol da angariação de fundos para a construção da Igreja Nova (presumo eu!)...

 

 

Saltam à vista vários pormenores...

Os mirones (carlotos?) que assistem à passagem do cortejo de oferendas, na "bancada" pouco confortável que é a parede, à direita, onde as pessoas se misturam com pilhas de telhas (?!) em equilíbrio instável e roupa a secar...

Lá ao alto, no Passadiço, à equerda o barracão de madeira (não era o armazém do gás do Sr. José e do Sr. Jorge da Eira, que tinham a loja de lanifícios e outras utilidades no dito largo?...

E claro, as pessoas, de fato domingueiro, com as notas presas nas lapelas dos casacos?!

 

A meio do cortejo, bem atrás do bombo maior, é visível um "andor" carregado com presunto, chouriços de lombo, paios...(será a fome que me tolda a vista?!!!), enquadrado por cestos de oferendas à cabeça das moçoilas com trajes tradicionais...

Mas, vejamos mais de perto:

 

  

Quem será esta criança, aqui à esquerda e em primeiro plano, com vestes humildes e descalça (?), que quase se confunde com a cor do caminho ou da calçada? Será que olha esfomeada para os cestos recheados com tantas guloseimas e petiscos no meio de tantos enfeites, transportados por mulheres tão andrajosas?  Criança só e ignorada por todos os cortejantes, que lhe viram as costas!

 

Mas vejamos outros detalhes no cortejo das oferendas:

 

Em primeiro plano algumas crianças acompanham os "percursionistas" (performers): bombos, pífaros e aqui mesmo à frente o ritmo a ser marcado pelo manipulador dos bonecos em madeira... de que não me lembro o nome...

 Ah! e o Ti Bernardo (?) ao lado do bombo maior...

 

Vejamos um plano mais aproximado...

 

 

A seguir o cortejo das oferendas em pormenor:

 

 

À esquerda os moçoilos engravatados e de mãos a abanar!... à direita as andrajosas jovens carregam os cestos de oferendas e aqui mesmo à frente o andor recheado...

 

Ai São Jorge! O que muitos dos teus filhos fizeram por ti e nada tiveram em troca !!!

 

 

 

 

14
Jun07

São Jorge Antigo VI


CorteVale

A SAGA DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA!

 

Antes e durante a construção da "nova Igreja" organizaram-se inúmeros ranchos de oferendas, onde as Aldeias Anexas à freguesia de Cebola marcaram presença....

 

 

Cestos, çafaites (açafates) e cabazes cheios de oferendas - queijos, chouriços, presuntos, aguardentes, e mesmo... oiro, para não falar nas notas de 50, 100 e mesmo de 1000 escudos, fixadas por alfinetes nas lapelas dos casacos dos homens da terra!...

 

 

Lembro, vagamente, uma procissão iniciada já na igreja nova e com um andor (presumo que de São Jorge), carregado e tapado de notas... revejo uma vaga imagem de um único envelope no meio das notas que cobriam todo o andor do padroeiro!...

 

Alguém terá tido o cuidado (e o prurido) de não ostentar notas na imagem do santo e daí este gesto de discrição... ainda criança, registei este comportamento de um(a) Sãojorgense anónimo(a)?... gostaria de saber quem foi que teve esta atitude... Claro que por modéstia, já visível no gesto do envelope, presumo que essa pessoa preferirá continuar no anonimato!...

 

 

À esquerda, a congestionar "a procissão", parece estar a "furgoneta dos Almeidas", esse eterno veículo que, de gemido em gemido e soluço em soluço, subia até à Eira e nunca deixou os condutores mal colocados...

 

Era como o Táxi do Ti Camilo... devagarinho e soluçando lá ia para todo o lado! 

 

E eu enjoava que me fartava, pois no meio dos solavancos, cheiro a gasóleo e os cigarros do Ti Camilo, era impossível manter o estômago calmo!...  

 

14
Jun07

São Jorge Antigo V


CorteVale

A Infância em Cebola!

 

Pelas caras - reconheço algumas - podemos presumir que se trata de uma imagem tirada há uns bons 60 anos... Provavelmente no final da década de 1940, início de 50!

Pelo fundo da imagem percebemos que foi tirada à Capela!

Note-se a "religiosidade" do acto de tirar a chapa... algumas das crianças de Cebola têm as mãos postas!

No primeiro plano da imagem uma criança mostra-nos algo! O que será?

 

 

 

Apesar de alguns breves sorrisos das meninas da fila de trás, impera o ar de respeito e algumas expressões sisudas.

Será que este grupo de crianças se encontrou num domingo à tarde, à Capela, para uma sessão de Catequese?

 

Espero outros olhares e comentários!

 

 

03
Mai07

São Jorge Antigo IV


CorteVale

 

Uma pausa durante os trabalhos de demolição da  velha igreja e/ou de preparação dos caboucos da nova (?).

 

Muitos destes rostos cansados viriam, alguns anos mais tarde, a aventurarem-se pelas terras dos canadás, das franças, das bélgicas, das alemanhas...  

 

 

De facto, muito pouco tempo após a construção da nova igreja as Minas entraram numa grave crise, levando grande parte dos homens "dispensados" a partirem na camioneta das 5 da manhã com as cabeças cheias de esperança e os corações carregados de saudade... uns com "carta de chamada"... outros ... "a salto"!

 

03
Mai07

São Jorge Antigo III


CorteVale

Homenagem ao espírito comunitário, à humildade e à cooperação revelada pelos Sanjorgenses durante a construção da nova Igreja...

 

Será que nos dias de hoje - Maio de 2007 - seria possível ver imagens destas em São Jorge? Fica a interrogação!

 

 

Pormenor da igreja antiga, antes do início da sua demolição(?); a torre em avançado estado de degradação. Destaque para os empreendedores da nova igreja. Atente-se para os instrumentos de trabalho da altura (década de 1950)

 

 

 

A simplicidade da energia empreendedora de uma Comunidade...

 

 

 

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